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Mulheres no Funk: Do Morro da Providência para o horário nobre da televisão

Mc Sabrina

Sabrina Luiza de Souza, 28, nasceu com a música pulsando nas veias. Começou no meio gospel, onde cantou para 5 mil pessoas com apenas 6 anos. Aos 14, foi descoberta pelo funk e gravou sua primeira música “Eu solto a Voz”. Hoje, Mc Sabrina, como é conhecida, dispara no programa de TV Lucky Ladies, exibido toda segunda-feira a partir de 22h30min pelo canal Fox Life.  “A vida na comunidade, no início foi estranha. Vim da Vila Kennedy, que também é comunidade, onde era favela, asfalto e não morro. É diferente. Tinha uma casa de tijolos, bonitinha, onde tive meu próprio quarto e de repente, fui parar num barraco de madeira e tudo mudou. Mas fui me adaptando e depois, acabei virando também a Voz da Comunidade.”

 

As comunidades, em uma visão geral, têm sofrido com a proibição aos bailes, uma consequência da pacificação. Tem gente contra, tem gente a favor e muita opinião rolando por aí. Polêmica, Mc Sabrina não concorda e atrela isso ao preconceito: “A proibição e a censura aos bailes é ridículo. Não vejo o motivo da recriminação. O funk é a libertação, é grito da alma e é reivindicação. Tudo isso é por causa do favelado? É porque, algumas vezes, não temos o mesmo estudo? Isso é preconceito e hipocrisia. O funk é brasileiro. Proibir por quê? Existe um preconceito grande demais. “

 

Ao ser questionada se tinha descoberto o funk ou o funk a tinha descoberto, ela foi enfática: “O funk me descobriu! Tudo aconteceu através de uma amiga da escola, o irmão dela tocava na comunidade, DJ Junior da Provi, escutou minha voz e falou ‘Caraca, essa garota tem que cantar funk’ levei na brincadeira, tinha 14 anos. Mas fui e lancei minha primeira música, que estourou na comunidade, ‘Eu solto a voz’, e com 16, eu já tava rodando tudo. Como uma das primeiras Mc’s ao fazer sucesso no segmento Melody, estilo dentro do funk com melodia mais suave e letras mais românticas que andava um pouco em baixa, Sabrina contou um pouco sobre a experiência: “O funk Melody não tocava na rádio já fazia alguns anos e a música “Dessa vez” já existia, mas com uma batida diferente. Demos uma mudada nela e a pegada do Melody voltou e deu espaço para quem já fazia o som nesse estilo, voltar também.”

 

Somente nós, mulheres, entendemos o preconceito que sofremos diariamente. E, muitas vezes, nos sentimos representadas quando uma mulher vence essa barreira. É uma responsabilidade muito grande ser mulher no funk, ainda mais de comunidade. O funk sempre foi um meio masculino e em 1995, quando surgiu Tati Quebra Barraco, isso começou a mudar. Na música “Sexy”, Sabrina faz uma crítica cantada ao que a sociedade, muitas vezes, impõe a mulher “Sexy? Pode ser. Pose? Se tiver a ver. Santa? Não sou e nem vou ser jamais!” Quem assiste a vídeos antigos de Sabrina, percebe que  no começo, ela tinha um perfil mais moleca, no seu jeito de falar, modo de se vestir e em algumas atitudes. Hoje, uma Sabrina mais feminina, diz ter entendido que não é agindo como os homens que defende seus ideais e as mulheres. Chega até a ser classificada como feminista, pelo olhar crítico ao machismo.

 

Não tem como olhar para favela e não pensar em funk. E nem o contrário. “A favela é importante na sociedade, sempre foi, são olhares diferentes. Hoje, eu só sou a Mc Sabrina por causa da favela. Foi o efeito que ela teve na minha vida, tem a voz do povo. A favela e o favelado viraram moda. Mas já sofríamos e sofremos muito. Existe muita hipocrisia. Tem toda uma maquiagem na favela.” Com músicas que falam da realidade que vive, Sabrina enxerga sua participação no programa de TV como um renascimento “ Eu sempre falei do que via na comunidade, do meu dia a dia. Já quase fui presa por isso, no começo da carreira. Fiquei quatro anos parada, sem mídia e o Lucky Ladies chegou com a Tati Quebra Barraco sendo mentora. Como não vou querer isso? A Tati é pioneira! ‘Nós é mídia não é fofoca’ ” Finalizou Sabrina, às gargalhadas.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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