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No aniversário de 70 anos do Maracanã, moradores do Alemão “ex-geraldinos” relembram a história do estádio

15 anos após o fechamento da geral, e 7 após a última grande reforma, moradores lembram com carinho dos anos dourados do estádio.

No último dia 16 de junho, o estádio Jornalista Mário Filho, mundialmente conhecido como Maracanã, situado na zona Norte da cidade, completou 70 anos de sua inauguração. No início de mês, o governador Wilson Witzel chegou a citar retomada do setor popular do Maraca, “Nosso geraldino vai voltar”. O Voz das Comunidades trouxe alguns moradores que viveram parte dessa história, e eles comentaram o saudosismo de ver o povão dentro do estádio.

Fundado em 1950, o Maracanã é marco simbólico na vida de todo o carioca que ama o futebol, o estádio passou por três grandes reformas, contudo, as duas últimas tiveram reflexo significativo na presença do povo periférico. No ano de 2005, o estádio teve sua segunda repaginada em razão dos Jogos Pan-Americanos, que resultou no fechamento da famosa “Geral”, o espaço conhecido como o mais democrático do futebol, onde os cariocas das classes populares tinham a oportunidade de viver a experiência que é uma partida de futebol de dentro estádio e com preços acessíveis.

Fui muito na geral, era o melhor tempo de se ir ao Maracanã, tinha o famoso canal que separava a arquibancada para ninguém invadir o campo, assistíamos aos jogos com os jogadores de pertinho, era todo mundo junto, um Fla-Flu com 130 mil pessoas era bonito de se ver, aquele mar de gente, e quando o Fluminense vencia o Flamengo era melhor ainda”, falou o tricolor e morador do Complexo do Alemão, Ivan Camelo, de 57 anos, sobre a saudade que sente dos geraldinos no Maraca.

Ivan Camelo

Em 2010, no seu aniversário de 60 anos, e com a Copa do Mundo no Brasil se aproximando, o Maracanã passou pela sua terceira reforma, a que mudou totalmente a estética do estádio, para atender aos padrões atuais de estrutura do futebol.

O Maracanã iniciou suas obras em 2010 visando à Copa do Mundo de 2014. A ampla reforma do estádio atendeu aos padrões exigidos pela FIFA para a realização de um Campeonato Mundial. Todos os estádios tiveram de se adequar às normas e, no projeto do Maracanã, foram previstos assentos em todos os setores. Conforme determina o protocolo de segurança para os torcedores nos estádios”, afirmou a Comunicação do Maracanã. Porém, a modernização aumentou os padrões financeiros de estádio e mudou também o perfil do público do jogo.

Carlos Eduardo

Infelizmente o estádio virou algo da elite, não mais da massa, Flamengo é favela, é do preto, é do pobre, é do favelado, o morro descia em peso para assistir aos jogos.O Flamengo ainda lota, mas o grande motivo é pelo amor que temos ao nosso clube, ao prazer que temos em assistir nosso time jogar, principalmente nessa fase maravilhosa. O ingresso mais caro não custava mais de R$ 150,00, e esse valor era mais voltado aos camarotes e áreas VIP. Hoje, esse mesmo valor temos que pagar em um lugar nas arquibancadas. O estádio ficou caro demais para a massa, infelizmente”, falou o consultor financeiro Alessandro Marques, de 26 anos, morador da Nova Brasília do Complexo Alemão.

Carlos Eduardo

O Maracanã teve sua história cultural e popular construída com uma relação muito próxima do carioca morador de comunidade e que aos poucos foi se distanciando devido a uma “marginalização” dessas pessoas. “A reforma para a Copa do Mundo pode ter deixado o estádio mais bonito e moderno. Mas o Maracanã perdeu o brilho de antigamente. Sempre que vou ao ‘novo Maracanã’ não sinto mais aquela emoção que eu sentia e tenho a sensação que estou em outro estádio, é como que o Maracanã que eu conheci e aprendi a amar não existisse mais”, contou o jornalista e botafoguense e também morador do Alemão, Carlos Eduardo, de 37 anos.

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Mesmo atualmente não sendo tão presentes, em comparação ao que já foram, as minorias tem papel fundamental na construção do que Maracanã e no que ele representa hoje, seu nome tem referências da cultura tupi-guarani, e significa “semelhante a um chocalho”, fazendo menção a ave Maracanã-guaçu, que emitiam sons parecidos com o de um chocalho.

Os clubes tradicionais de bairro (como Olaria,Madureira, Bangu, America), que fizeram parte dessa história, também foram afetados com essa modernização e não são mais tão presentes no Maracanã.  E a criação do estádio está ligada a muita coisa, uma delas era de abrigar todo o tipo de público, as mudanças ao longo de tempo, foram esvaziando os setores populares do estádio, porque hoje o público gasta mais para assistir ao futebol, o espetáculo mudou. O treino aberto do Flamengo em 2018 por exemplo, foi uma oportunidade de muitos torcedores mais humildes da nova geração de terem seu primeiro contato com o Maracanã”, relatou o narrador da Web Rádio Super Torcidas, vascaíno Gabriel Andrezo, um dos especialistas sobre a historia do futebol carioca. 

Gabriel Andrezo

Mesmo atualmente não sendo tão presente, comparando ao que já foi antes, as minorias foram fundamentais na construção do que Maracanã representa hoje, seu nome tem referências da cultura tupi-guarani, e significa “semelhante a um chocalho”, fazendo menção a ave Maracanã-guaçu, que emitiam sons parecidos com o de um chocalho.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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