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Numa Favela chamada Brasil…

Foto: Renato Moura
Foto: Renato Moura

Dilma Rousseff foi afastada definitivamente do cargo de Presidenta do Brasil após 61 senadores votarem pela confirmação do seu impeachment, sob acusação de ter praticado pedaladas ficais (pegar dinheiro emprestado de bancos públicos como BNDES para pagar programas sociais como o Bolsa Família por exemplo) na tarde de ontem, quarta-feira, 31 de agosto.

Vamos levantar para trabalhar amanhã em um Brasil onde Michel Temer, vice de Dilma desde o primeiro mandato, é o Presidente da República.

Podemos dizer que se o Brasil fosse de fato uma favela, Lula era o chefe da boca, e pela ordem do movimento não poderia passar mais de oito anos no poder. Como tinha contexto com a favela inteira, como um Bené do filme Cidade de Deus, indicou uma mina para sucedê-lo, a Dilma, e a comunidade foi lá e votou na tiazinha.

Dilma assumiu, mas para poder governar, assim como nos tempos de Lula, precisava fechar com uma outra facção criminosa de muito poder – o PMDB.

Como Dilma não era tão talentosa como Lula nas negociações, e o movimento de todo o sistema global andava enfraquecido, não foi fácil governar.

Contudo, depois de quatro anos, lá estava Dilma se candidatando para passar mais quatro sendo dona dessa boca de fumo que se chama Brasil.

Mesmo sabendo que aquele não era o governo dos sonhos do povo (a galera tava puta com o PT com razão), a mina foi eleita novamente, com mais de 54 milhões de votos.

As alternativas eram muito piores, com chefes do tráfico de um tempo em que o pobre passava fome e que mãe não via filho entrar na faculdade para pegar o canudo – no máximo para limpar as salas de aula.

Só que essa galera que perdeu não se conformou. Por isso, pegaram os documentos de leis da favela, arrumaram uns advogados para convencer aos juízes que Dilma tinha cometido crime e a queriam fora do comando da boca de qualquer maneira.

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Foto: Reprodução/Internet

Pois bem, o pessoal rico da favela vestiu verde e amarelo e foi protestar para tirar Dilma da presidência a qualquer custo. Estavam agoniados em ver que quem tinha barraco de madeira tinha conseguido levantar a casa de cimento com laje e tudo.

Saindo da imaginação, desse cenário que é bem mais conhecido nosso do que os engravatados de Brasília, é preciso dizer que a partir de hoje o mundo real vai ser bem mais amargo para favelados/suburbanos como nós. Isso porque dentre os projetos desse governo Temer estão cortes em projetos sociais como o de combate ao analfabetismo, o Ciência sem Fronteiras (o que incentiva jovens de faculdades públicas a estudarem fora do país), a reforma da previdência e as conquistas da CLT, como o décimo terceiro, férias, licença maternidade e etc.

O Brasil vai voltar aos tempos onde quem é rico fica mais rico e o pobre mais pobre.

É preciso dizer que o Voz da Comunidade não é um jornal do Partido dos Trabalhadores. É preciso dizer que nós apontamos os milhões de defeitos que esse partido teve ao longo de sua história. Mas isso não quer dizer que seja possível negar que em mais de 500 anos de Brasil, foi o governo que, mesmo timidamente, mais se importou e trabalhou para uma terra menos desigual.

Hoje é um dia triste para nós, pobres, negros e favelados.

Mas estamos preparados para continuar lutando por um amanhã de #ForaTemer. Porque afinal, de dor e de luta a gente entende.

*O texto foi escrito na madrugada de quarta-feira pra quinta.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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