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Opinião: A cultura produtora de violência por trás da masculinidade tóxica

 O Brasil é um dos países que mais matam LGBTs em todo o mundo. Só esse ano há um registro de 141 mortes de pessoas LGBTs de janeiro a 15 de maio, segundo relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB). Segundo a entidade, foram 126 homicídios e 15 suicídios, o que representa a média de uma morte a cada 23 horas.

A relação entre essas mortes e o comportamento social se interliga na perpetuação da estatística e abre espaço para o debate sobre uma expressão recente que precisa ser colocada em pauta como um assunto fundamental e necessário de ser discutido dentro do nosso convívio social: a masculinidade tóxica.

O termo faz uma crítica ao comportamento do homem cisgênero (indivíduo que se identifica em todos os aspectos com o seu gênero de nascença) e suas atitudes tóxicas, tais como, violência, controle, dominação e as consequências que esta conduta pode nos trazer.

Esta ideia tóxica de gênero vem sendo reproduzida em diversos espaços, principalmente dos homens mais velhos para os mais novos e tem uma significância considerável nas violências produzidas em nossa sociedade. Há um bombardeio e um ataque vindo dessa toxicidade que se preserva não só e exclusivamente hoje, mas sim em uma construção conservadora.

“Fica que nem homem!”, “Ele anda com viado”,  “Isso é coisa de menina”, “Vou te levar no puteiro”, estas e outras expressões brutais fortificam  e dificulta toda uma tentativa de eliminação.

Há uma construção simbólica do que é ser homem, falar firme, não demonstrar emoções, ser dominante, aguentar o tranco o tempo todo. Precisa-se entender que não tem problema ser másculo, porém acontece que quando a gente trata desses padrões da masculinidade, impacta não só negativamente nas subjetividades, mas também tratamos de uma cultura produtora de violência, pois vem formando homens inseguros. 

No mundo masculino também existe um termo chamado Caixa do Homem. É basicamente tudo que está dentro dela significa o que um homem deve ser para ser visto como um alpha(que apresenta características dominantes) e alcançar o prestígio social. 

Na Caixa também há bons atributos. É ótimo ser corajoso, apto, provedor e ativo. A  questão aqui é outra. Quando se impõe um modelo de comportamento como “normal”, os que não estão de acordo com o que é exigido, sofrem com a pressão que é imposta.

Muitas famílias ainda pregam essa ideia conservadora que, além de ser um abuso para saúde mental das crianças e jovens, pode fazer com que estes passem por crises ao longo das suas vidas, afetando drasticamente os seus afazeres cotidianos e sentindo que há algo de errado consigo,  quando na verdade não há. 

Ninguém nasce intolerante e preconceituoso, na verdade, torna-se. Este é um tema difícil e complexo que não se esgota somente neste artigo. A masculinidade tóxica não é isenta de classe ou raça. Ela é propensa a acontecer com qualquer um, inclusive com a atual figura representativa do Brasil, que afirmou abertamente “gay é falta de porrada”. Precisa-se refletir, debater e criar mecanismos de soluções para que não seja um hábito tendencioso e contínuo.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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