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Ordem de despejo na Aldeia do Maracanã

Nesse sábado (12/01), o Batalhão de Choque do Rio de Janeiro cercou a Aldeia do Maracanã, localizada no antigo Museu do Índio, com o objetivo de garantir o cumprimento da decisão judicial de despejo da comunidade indígena, que há 6 anos ocupam o espaço promovendo oficinas de culinária, canto, dança, contação de histórias, palestras em escolas e universidades aberta a população.

Não conformados pela decisão judicial, que prevê a demolição do prédio para a construção do Complexo do Maracanã que vai receber a Copa 2014, a sociedade civil frequentadora do espaço, estudantes, jornalistas, moradores, militantes e ativistas da causa indígena realizaram um dia de atividades culturais na aldeia protestando contra demolição do prédio e a desapropriação dos indígenas.

A princípio a ideia era realizar uma série de atividades culturais durante a manhã do sábado para mostrar um pouco da história da aldeia, da cultura indígena e da importância da preservação desse espaço histórico na cidade do Rio de Janeiro. O protesto que desde o começo possuía uma narrativa pacífica, esquentou quando o batalhão de choque da Polícia Militar e o Bope chegaram no local querendo expulsar os índios e cumprir a decisão judicial de despejo.

Com mais de 200 pessoas ocupando o local, a retirada da comunidade foi dificultada, já que todos os presentes fecharão a entrada principal criando uma barreia para impedir a entrada do choque, que passou o dia inteiro negociando com os indígenas. No final do dia foi embora mas prometendo voltar com um mandato de despejo.

Segundo Afonso Apurinan, indígena e morador da aldeia desde 2006, o prédio foi doado a 100 anos atrás para a pesquisa de sementes e a preservação da cultura indígena, mas o governo federal acabou tomando de conta. O prédio ficou abandonado 30 anos, até que os índios ocuparam o espaço promovendo atividades culturais. Atualmente a União vendeu o espaço para o governo estadual e agora eles estão sendo ameaçados de despejo para a construção de um shopping que fará parte do Complexo do Maracanã.

“Nós queremos que o governador reconheça que nós somos seres humanos e temos cultura. Há 500 anos os povos indígenas têm sido explorados e temos que ser respeitados culturalmente. Nós estamos aqui não só defendendo a cultura indígena, estamos defendendo a cultura do Brasil”, declarou Apurinan.


Desde que as obras para a Copa 2014 começaram, junto com a organização dos mega eventos que o Brasil irá sediar,uma série de violação de direitos humanos, tem acontecido por todo o Brasil, principalmente na cidade do Rio de Janeiro onde centenas de famílias estão sendo destituídas de seus territórios sem aviso prévio, devido a “remoção branca” nas favelas.

Dessa vez, a desapropriação irá atingir a comunidade indígena, explorada há 500 anos no Brasil. Explorada por um governo que pretende avançar economicamente, a custa da violação de direitos, passando em cima da constituição , nesse caso passando em cima da lei 11. 645, promulgada em 2008, que prevê a preservação do patrimônio imaterial de uma geração e de um povo.


De acordo com a Unesco, a expressão patrimônio imaterial pode ser definida como “as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural”.

Em um país, que diz que perante a lei “todos somos iguais”, não pode haver tomada de decisão e sanções como Belo Monte e afins sem antes criar possibilidades e ferramentas de auditoria pública, diálogo com a sociedade civil organizada e com as comunidades afetas.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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