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Trabalhadores informais e empreendedores de favelas se reinventam em tempos de pandemia

Com a quarentena, ambulantes e comerciantes de favelas buscam novas maneiras de seguir com seus trabalhos

Foto: Matheus Guimarães / Voz das Comunidades

Com a restrição de circulação de pessoas em ruas devido à Covid-19, muitos trabalhadores precisaram repensar a forma de trabalhar. E, nas favelas do Rio de Janeiro não é diferente. O comércio mudou sua forma de trabalhar, muitas lojas ainda não podem abrir e aquelas que também são consideradas serviços essenciais precisaram se adaptar a todos os cuidados necessários, como não deixar de usar as máscaras.

Trabalhadores informais, aqueles que não possuem carteira assinada, também vivem momentos de angustia sem saber como farão para manter suas rendas. Vendedora ambulante, Ester Alves, que trabalha vendendo suas balas e doces na Linha Amarela, contou que nesse momento tudo mudou em sua forma de trabalho.

“Tudo está bem diferente, o movimento diminuiu, para ir aos pontos que eu costumava vender meus doces tenho que seguir as recomendações e ainda tem o medo do vírus”, conta Ester que há 15 anos vive de seu trabalho como ambulante.

Ester Alves vendedora de balas no sinal. Foto: Vilma Ribeiro/Voz das Comunidades
Ester Alves vende balas no sinal. Foto: Vilma Ribeiro/Voz das Comunidades

A ambulante ainda acrescentou que hoje não consegue vender a mesma quantidade que antes e que, quando chega às lojas para comprar a mercadoria, ainda se depara com valores mais altos.

“Vou tentando fazer o que posso, mas as vendas caíram muito e aí bate aquele medo de não conseguir pagar as contas. E os doces ainda estão mais caros, mas sigo saindo para tentar vender o que dá. Sempre tive altos e baixos nesse trabalho, mas com o pessoal em casa é mais complicado”.

Assim como Ester, muitos outros trabalhadores seguem tentando manter a sua rotina de trabalho com os cuidados necessários. No entanto, ainda assim encontram desafios diários em meio a pandemia. Empreendedora do Complexo do Alemão, Joelma Alcântara é gestora de RH e proprietária da Jojô Serviços que está localizada na Nova Brasília e auxilia os moradores com serviços de RH, envio de currículos e todas necessidades relacionadas aos serviços de acesso à internet. Contou que nesse período de pandemia teve que fazer algumas mudanças na forma de trabalho para que não fechasse seu negócio.

“Mesmo com a pandemia, tento manter o meu trabalho. Aqui na Jojô Serviços estamos tomando todos os cuidados necessários, tudo higienizado, temos álcool em gel e sabonete líquido para que aqueles que precisam dos serviços de internet, auxílio em alguma solicitação digital, possam ter isso sem correr nenhum risco. Além disso, sempre que alguém vem aqui e utiliza nossos computadores, imediatamente o mesmo é higienizado para que outras pessoas possam usar”, contou Joelma.

Jojo Serviços é o escritório de RH referência na favela. Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

Outro ponto que ocorreu mudança no dia a dia de trabalho foi quanto a uma maior utilização das redes sociais, como Facebook e Instagram. O perfil da empresa começou a usar mais o espaço para fazer lives, tirar dúvidas, e Joelma viu suas palestras sobre RH e dicas para o mercado de trabalho invadirem o mundo digital.

“O meu trabalho é de contato diário com o público, mas com a pandemia, tive que pensar em outras formas de seguir com ele em segurança e também continuar ajudando os moradores que precisam acessar a internet, enviar e receber documentos e também a melhorarem seus currículos. Comecei a fazer lives na página com dicas de como melhorar o currículo e também falando um pouco sobre as mudanças no mercado de trabalho nesse período. Assim pude saber sobre a dúvidas das pessoas, bater esse papo, interagir com outros profissionais e me manter ativa nesse auxílio aos moradores que hoje estão em casa e possuem essas dúvidas”.

Outros trabalhadores que sentiram na pele essas mudanças são os entregadores, uma vez que viram o trabalho triplicar. Morador da Grota, no Complexo do Alemão, e trabalhando em um hortifrúti em Olaria, Gilson Alves revelou que sua rotina de trabalho se tornou muito mais pesada e que o medo do coronavírus é uma constante.

“Sempre fiz as entregas da loja, mas agora esse número aumentou muito e mesmo trabalhando de máscara, levando o álcool, o tempo todo estou em contato com as pessoas e aí bate aquele medo desse vírus, mas tem que trabalhar né? Antes, eu fazia de 8 a 13 entregas por dia, agora estou fazendo mais de 30 todos os dias”.

Ao mesmo tempo que algumas áreas sentem o impacto da diminuição nos serviços, outras, como aquelas que trabalham com entrega, veem a demanda aumentar. E, dentre todos existe uma mesma certeza: é preciso manter os cuidados necessários contra esse inimigo invisível que torna a vulnerabilidade das favelas ainda maior.

DICIONÁRIO:

Essenciais Fundamentais; de extrema importância; que são indispensáveis: questões essenciais para o governo.

Interagir Fazer com que haja certo diálogo entre uma pessoa e outra; comunicar ou comunicar-se.

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PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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