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OPINIÃO | Quando a sociedade impõe rivalidade a gente cria outra ferramenta: a sororidade

Existe um mito implantado em nossa sociedade que diz que há uma dura rivalidade entre as mulheres, e isso nos força a acreditar que elas nasceram para se odiar. Elas disputam uma vaga de emprego, elas não aceitam chegar na festa e ver outra mulher com o mesmo vestido, elas consideram o fim do mundo quando sua melhor amiga alcançou o “peso ideal” enquanto a ela engordou dois quilinhos, e nem queira saber o que elas são capazes de fazer quando descobre que uma “roubou” o homem da outra. Além disso, escutamos tantas meninas dizendo que mulheres são falsas e que é impossível fazer amizade com alguma. Tudo para nos fazer pensar que a vida das mulheres é tão fútil que suas maiores preocupações é esse tipo de situação citada acima. Pois bem, todos esses estereótipos machistas impulsionam conceitos pré-estabelecidos de que as mulheres são inimigas entre si, elas não nasceram para se dar bem uma com a outra e tentar mudar isso é uma espécie de transgressão para a natureza.

Esse tipo de ideia traz um problema porque além de rebaixar o valor da mulher, dá a entender que elas são incapazes de se organizar entre si, que não são aptas a governar ou administrar situações diversas e se preocupam somente em detestar outra mulher. A participação feminina, por exemplo, na política; é muito pequena, a média mundial é de 23,3% de mulheres nos parlamentos. Aqui no Brasil, dados da Inter-Parliamentary Union mostra que as mulheres representam pouco mais de 10% no Congresso. E infelizmente, é tão comum não vermos a atuação feminina em decisões públicas, que não nos damos conta que somos governados por uma maioria masculina sem que exista um equilíbrio nas tomadas de decisões.

Mas apesar da dificuldade em converter essa falsa imagem que propaga a rivalidade feminina, um termo usado há mais de 40 anos ganha força nas redes sociais e nos grupos feministas atuais: sororidade. A palavra vem do latim sóror, que significa “irmãs”, e prega a empatia, o companheirismo e a união entre as mulheres. Em fevereiro deste ano, a jovem Elfa Leei Nadah publicou em sua página no Facebook a foto de um bilhete que recebeu de outra mulher dentro do metrô, em São Paulo. No papel, a moça alertava quanto a um homem que a olhava de maneira estranha. Em sua postagem ela relata que estava no metrô da Companhia de Trem Metropolitano (CTPM), e distraída com seu celular, não percebeu a atitude estranha do homem desconhecido. Foi aí que apareceu uma moça, considerada por Elfa como um “anjo”, que entregou um bilhete alertando sobre o tal homem que não parava de olhar para a jovem. Na publicação ela comenta que “o cara olhava de cima a baixo e lambia os lábios”, e que tinha medo dele se aproximar a qualquer momento. Depois de receber o aviso, Elfa saiu do campo de visão do sujeito e seguiu sua viagem tranquila. Ela não teria atinado para o estranho se não recebesse essa mensagem. O post recebeu mais de 4.000 comentários, a maioria elogiando a atitude dessa moça em alertar a outra. Outros 37.113 usuários do Facebook compartilharam a boa ação que chamou atenção nas redes sociais.

Estamos vendo, mesmo que aos poucos e lentamente, o aparecimento de novos conceitos sobre a mulher. No lugar de competição, acrescentamos o apoio, no lugar da inimizade, a compreensão, o respeito. Substituímos o julgamento de como outra mulher se veste e passamos a olhar suas competências, sua história. Em vez de alimentar atitudes misóginas, alimentamos a ideia de que nós mulheres somos capazes de tudo, inclusive admirar outra mulher; e acima de tudo, elas estão criando uma rede de apoio e proteção, mostrando que mesmo que elas não tenham a defesa do Governo, ou da Segurança Pública, elas têm umas as outras. Esse é o caminho para a solidariedade feminina.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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