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Carta para Luane Dias e tantas mulheres pretas… Eu entendo e estou com vocês!

Texto: Gabi Coelho

É, preta… Não é fácil. Não tem quem segure a nossa mão em momentos como esse que você está passando. A solidão da mulher negra é o reflexo de tudo que aconteceu com você, durante anos, durante um reality show e durante um dos momentos mais difíceis da sua vida; a luta com a depressão. Eu não vou falar pra você ser forte. Pode fraquejar, preta. É natural. A vida é tão dura, nos cobra tanto… Mas entenda que é importante resistir, você é necessária pra tudo que se propõe a fazer e pra quem te quer bem.

Por muitas vezes eu chorei com os ataques que você sofreu nas redes sociais mesmo quando ainda estava no reality show – que eu me pergunto se tudo e todos são tão reais ao ponto de não se manifestarem diante de discursos de ódio, racismo e violência contra uma mulher negra. Eu vi pessoas legitimando essas atitudes, mas também vi um grupo enorme de seguidores que se sensibilizaram e se importaram com você. Confinada numa fazenda de São Paulo ou escrevendo sobre a depressão diretamente da sua casa no Rio de Janeiro, existem pessoas boas que querem o seu bem. Você viu, eu vi, todos que acompanharam no Twitter a hashtag #ForçaLuane puderam ver. Você é amada, preta!

Quando falo da solidão da mulher negra, falo sobre o dia a dia, sobre a vida off-line. Me lembro quando estava em casa e uma pessoa da minha família que acompanhava o programa me disse: “Vários participantes estão dizendo que a Luane não faz nada, não levanta da cama e nem do sofá.” Eu, que assumi pra minha família este ano que tenho depressão, disse: “É… Eles não devem ter noção do quanto é difícil se levantar.”

Eu estava falando de mim, de você, de tantas outras pessoas que lutam com essa doença. Você não tinha assumido publicamente – não que eu me lembre – mas por tantos motivos eu consegui entender através da tela da televisão que você não estava bem. Sintomas que eu sinto, vontades que eu tenho… Pessoas reais não deixam de transparecer quando não estão bem só porque estão participando de uma programa na TV. Você é real, preta. O que vem acontecendo é resultado de tudo que você passou dentro e fora dessa experiência.

Você já deu um passo importante. Falar sobre a sua doença é um ato de resistência.

Eu entendo o quanto é doloroso, como os processos são lentos, como a vontade de não fazer nada e desistir de tudo acaba se tornando parte da rotina. A depressão não é uma doença com feridas expostas, ela aperta o coração, causa fortes dores na alma, impossibilita a vontade de viver e colabora para que uma vida seja interrompida. É aí que precisamos parar, respirar e refletir que somos maiores que tudo isso. É procurar motivos para continuar. Por muitas vezes não encontramos esses motivos, mas eles existem… E nós somos o principal. Nossas vidas são essenciais. Não me pergunte pra quem, ao invés disso, se pergunte tudo que você ainda deseja fazer, independente da situação, do local ou das pessoas. Faça por você! Faça por quem você ama e também te ama.

É por meio desta carta que eu quero dizer pra você e tantas outras mulheres que: eu estou com vocês! Respeitem seus momentos e processos, respeitem seus sentimentos e seus corpos… Entendam que “fraquejar” faz parte, que chorar alivia, procurar ajuda é essencial, se cuidar é importante e respirar fundo – prestando bastante atenção na respiração – é exercício diário. Se agarrem em pessoas boas, com energia e disposição pra fortalecer na queda, no choro, no sorriso, na doença, na cura, no amor. Luane, mulheres, pretas… Nossas vidas importam! Estamos juntas.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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