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Contrabandeando a arte, grupo de teatro do Complexo do Alemão é exemplo de excelência e resistência 

Contra Bando de Teatro existe há quase 11 anos e foi fundado por quatro moradores do território
Uendell Vinícius / Voz das Comunidades
Uendell Vinícius / Voz das Comunidades

Atenção: daqui a dois meses, o ‘Contra Bando de Teatro‘ faz 11 anos. Mas, enquanto o aniversário do grupo que nasceu no Complexo do Alemão não chega, os fãs da Arte vão poder prestigiar a peça autoral ‘Nada Me Aflige – 10 anos’, às 17h do dia 27 de abril, na Arena Carioca Dicró. O espetáculo é uma releitura que capta um pouco de cada integrante – que, certamente, você vai se identificar – uma década depois da primeira vez que apresentaram a ‘mesma’ peça. Acontece que, dessa vez, o texto é autoral, construído coletivamente e escrito por três membros: Nilda Andrade, Rohan Baruck e Victor Meirelles. Dois deles são fundadores.

Falando em fundação do Contra Bando, eles são quatro: Nilda, 34 anos, Mari Oliveira, 28, Marcos Carolinno, 35, e o Victor, 40. Todos atores que ficaram órfãos de um projeto de teatro que existiu no Alemão até 2013, época da ocupação policial no território. E, desse rompimento, nascia outro elo, que se chamaria ‘Contra Bando de Teatro e Outras Patifarias’, nome dado pelo então diretor Mauro Marques. A partir de uma violência, eles se tornaram resistência. Hoje, são nove membros fixos.

Foto: Uendell Vinícius / Voz das Comunidades

Complexo. É como Nilda, indicada ao Prêmio Shell em 2023 por sua atuação na peça ‘Pipas’, classifica em uma palavra o caminho do Contra Bando de todos esses anos. Ela conta que sempre tiraram dinheiro do próprio bolso para se manterem: “Quase desistimos várias vezes”.

“A gente que é periférico tem a autoestima baixa. O Teatro me empoderou! E me fez enxergar o quanto meu território é potente. Percebemos que somos referência entre os nossos. As crianças falam: ‘Tia, tu é atriz? Então eu posso ser!’”, contou Nilda.

Foto: Uendell Vinícius / Voz das Comunidades

Luta. Foi a palavra que Mari usou para definir o sentimento de ser parte do grupo durante todo esse tempo. Com seu coração compartilhado entre o Serviço Social e o Teatro, ela aponta o Contra Bando como culpado de sua segurança. “Me impulsionou a entrar na faculdade. Essa semana mesmo me disseram que não daria em nada; somos programados pra que a gente não produza nada”, confessa.

Ela reforça: “Vejo o Contra Bando como um grande posicionamento, também de forma individual. Não nos justificamos mais, somos bons e fazemos arte”.

Foto: Uendell Vinícius / Voz das Comunidades

Sabedoria. É a definição usada por Victor. “É poder manter viva dentro do meu fazer teatral a favela. Normalmente, eu nunca podia me ver representado ou fazer representar a favela. Viver o Contra Bando de Teatro é viver algo que tem CPF e RG, que tem a nossa identidade, viver esse ator que vive e pulsa a favela e a periferia”, diz.

“Profissionalmente, quero estar cada vez mais trabalhando e vivenciando o teatro, e não rotulando. ‘O ator negro, o ator da favela’. Nós somos artistas e ponto”, afirma.

Resistência. Parece óbvio, mas o óbvio precisa ser dito, certo? Marcos Carolinno disse. “Faz muita diferença não ser de fora pra dentro e sim de dentro pra fora. A gente se sente até mais a vontade de ler o texto. Eu falo da minha trajetória. De segunda a sexta eu acordo 4h15 da manhã para poder dar aula lá no Arpoador. Então, é muito nosso”.

E, para ele, isso gera uma afetividade maior. “Eu começo o espetáculo dançando, correndo e… sou eu”, expressa.

Foto: Uendell Vinícius / Voz das Comunidades

Cansativo. Uma palavra bônus dita por Nilda e concordada por todos. Com muitas risadas que parecem carregar memórias. Rohan Baruck, o diretor do grupo, é de São João de Meriti, mas sua relação com o Complexo do Alemão começou antes mesmo de sua relação com o grupo. Ele participou da ‘força-tarefa’ para começar a inscrever o grupo nos editais: “A gente negligenciava um direito que era nosso, mas é porque não conseguíamos nos inscrever. Não tínhamos dinheiro para produzir muitas coisas que eles pediam. Estamos falando de 10 anos, quem tinha dinheiro para foto naquela época?”.

Ele vê o Contra Bando como um encontro de periferias, uma união de pessoas que se identificam, um espelho de aflições. Quem conhece o Contra Bando vê isso e muito mais; no mínimo, a excelência da arte bem feita – e sentida.

Confira todos os integrantes do grupo:

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PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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