Pesquisar
Close this search box.
Pesquisar
Close this search box.

Imperatriz Leopoldinense vai em busca do bicampeonato com a sorte virada pra Lua

Escola trará um enredo com a história da cigana Esmeralda e conta com a forte relação com a comunidade do Complexo do Alemão para a conquista
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Sonhos, mistérios e muita diversão. É com essa receita que a Imperatriz Leopoldinense está construindo o seu carnaval deste ano de 2024 “Com a sorte virada pra Lua segundo testamento da cigana Esmeralda”. E não para por aí. A Verde e Branco ainda conta com um ingrediente especial para garantir o seu bicampeonato: a sinergia com a sua comunidade (Complexo do Alemão). 

A nossa equipe teve o privilégio de visitar o barracão da escola na reta final da preparação para o maior espetáculo da cidade do Rio de Janeiro, ou melhor dizendo, o maior espetáculo do mundo. Isso pela beleza das alegorias, a poesia dos sambas e por constatar o talento do carnavalesco Leandro Vieira realizado em nossa frente, com toda a sua beleza, criatividade e magia.

Integrante do barracão da escola finalizando as últimas alegorias
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Não há dúvidas sobre a importância de uma escola coesa dentro da avenida, onde a energia e engajamento de uma relação saudável e real pode fazer com que quem esteja assistindo das arquibancadas ou de seus respectivos televisores consigam sentir conectados pelo sentimento de realização e dever cumprido. O resultado disso foi visto pela Imperatriz Leopoldinense no último ano, onde realizou um desfile impecável e com uma escola linda, que cantava junto. 

Na história da escola, claro, há outros momentos memoráveis, como o tricampeonato de 1999, 2000 e 2001. Também momentos difíceis, como em 2019 que a escola acabou caindo. Contudo, conseguiu com muita garra voltar ao célebre grupo especial, espaço que tradicionalmente ocupa há muitos anos. Outro fato importante de se resgatar é que a majestosa Leopoldina já teve diversos nomes de rainhas à frente de sua bateria, como Luiza Brunet, Luciana Giménez e Iza. Mas tem sido com uma cria do CPX do Alemão, Maria Mariá, que a identificação tem se tornado mais forte. Afinal, é a comunidade na frente da bateria. 

Esse resultado sem sombra de dúvida tem a ver com uma relação que foi resgatada nos últimos anos com os novos olhares que chegaram na escola, por entender o Complexo do Alemão como parte da história. Afinal de contas, os componentes são majoritariamente moradores de lá. Inclusive, a Imperatriz já ofereceu diversos serviços para a comunidade, sendo espaço para aulas de educação física das escolas que não possuíam quadras, ações sociais que potencializaram talentos, e, claro, recentemente teve um papel fundamental durante a pandemia fornecendo máscaras para mais de 4 mil pessoas. 

Existe algo que não se pode negar: a escola vem se aproximando cada vez mais das raízes que construíram a sua história e o resultado disso tem sido a energia contagiante que é ver a Verde e Branco harmônica, cantando junto e com o sentimento genuíno de amor e alegria que só o samba evoca para vida de cada um dos integrantes; seja ele de qual patamar for. Está todo mundo no mesmo “enredo”.

“Enxergo esse momento de reaproximação com a nossa comunidade como necessário. As escolas de samba são grandes referências socioculturais na cidade do Rio de Janeiro e possuem grande potencial de transformação. Não tem cabimento uma escola gigante como a Imperatriz, localizada no coração do maior Complexo de Favelas da América Latina, não ter orgulho de fazer parte dessa engrenagem e reconhecer a importância de usar de sua representatividade para ajudar a transformar vidas nessas comunidades”, nos contou João Drummond, Diretor Executivo da Imperatriz Leopoldinense.

João representa parte do futuro das escolas de sambas do Rio, com um olhar mais atento às questões sociais e culturais. Ainda a respeito de futuros, no plural mesmo, perguntamos o que ele espera dos novos capítulos que serão construídos nos próximos anos: 

“A nível de futuro vejo uma relação cada vez mais próxima. Acredito que a escola tem muito a contribuir com novos projetos que possam levar cada vez mais cultura e cidadania àqueles que mais precisam, mas também mostrar ao mundo a potência que vive dentro das comunidades. A arte, o talento, a capacidade dessas pessoas que fazem parte da engrenagem de uma escola de samba. A Imperatriz precisa usar da sua capacidade de comunicar-se com o mundo através dos seus desfiles para levar para todos os cantos e exaltar com orgulho a sua comunidade”, destaca o Diretor. 

Os ensaios de rua têm sido um bom termômetro para entender o nível de paixão de cada componente que construiu e constroe a escola a cada novo ano. As ruas de Ramos ficam lotadas de um povo que tem no seu DNA a fórmula certa para compor, cantar e sambar o melhor ritmo do mundo (na minha opinião). E se engana quem acha que a escola não tem visto esse retorno. Na mesma conversa, perguntamos ao João Drummond o que a Imperatriz, com toda a sua realeza, tem achado dos ensaios de rua.

Registro de um dos ensaios de rua que tem acontecido regularmente na rua Euclides de Farias, em Ramos
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

“Os ensaios de rua são, a cada semana, motivo de muito orgulho. É claro que existe uma importância muito grande para o desenvolvimento do desfile nesses ensaios. Porém, a vitória maior é o acolhimento que recebemos dos moradores e espectadores. Não tem nada que compre a sensação de ver casas decoradas, crianças com os olhos brilhando ao ver o cortejo e as ruas cheias em apoio à nossa escola”, declarou João. 

“Vai clarear, olha o povo cantando na rua. A Imperatriz desfila com a sorte virada pra Lua” canta a escola no seu novo samba-enredo que promete conquistar o coração de todos na avenida, porque quem acompanha a escola de perto já está com a letra e melodia na ponta da língua. 

E há muitas histórias com a Imperatriz…

A Imperatriz também já foi e continua sendo um ponto de encontro para que histórias aconteçam, inclusive de amor. Enquanto apurávamos algumas histórias, conhecemos a da Cláudia Inácio (57), e Jorge Luiz Rozas (62) que são casados há 31 anos e seguem apaixonados entre si e pela escola.

Eles se conheceram no bloco carnavalesco “Brasinha de Ramos” em 1980 na Rua Dr Noguchi. Saíram no Cacique de Ramos, Bloco da Paz e Harmonia e na Imperatriz saíram juntos desde 1986. Por muitos anos o Jorge (ou “Dão” apelido que é conhecido) saiu na bateria no último ano que foi em 2007. Até hoje a relação é de muito carinho e amor com a escola do coração e isso influencia toda a família. Das filhas até o genro, que hoje desfila na bateria da escola.

Perguntamos sobre o que eles pensam sobre a Verde e Branco estar mais próxima do Complexo do Alemão, com a volta dos ensaios na rua:

“Nós adoramos os ensaios de rua, todos os dias que confirmam, estamos lá acompanhando a escola. Na verdade, toda vez que tem algum evento ao redor da comunidade, sempre estamos presentes. Mas com a Imperatriz é um amor muito especial e ficamos felizes de poder fazer parte dessa história”, conta o casal.

Falta muito pouco para vermos o resultado de um trabalho que tem sido pensado e executado muito antes do carnaval. A escola acontece o ano inteiro, com a força e suor de muitos moradores do Complexo do Alemão. Ver a garra e determinação de cada um desses integrantes para construir um show com muita história, qualidade e refinamento só demonstra que o nosso poder enquanto comunidade ainda merece muito mais reconhecimento. Que o samba da Imperatriz seja sorte, e que a Lua esteja brilhando fortemente na noite do desfile. O resultado a gente descobre logo, logo.

Confira o samba-enredo na íntegra!

Vai clarear… olha o povo cantando na rua
A Imperatriz desfila com a sorte virada pra Lua

Ê cigana, a caravana está em festa
Tem fogueira, dança e seresta
Nesta avenida da ilusão
Ao som de violão e violino
O verso da mais pura inspiração
Descobri seu testamento e fiz um manual
Sonhei a vida feito carnaval
Em devaneios e magia
Cerquei por todos os lados,
Riscando a fé no talão
Apostei na coroa e no coração
O destino é traçado na palma da mão
E a vida se equilibra em cada linha
Andarilho, sonhador
Na corda bamba do amor
Encontrei minha rainha

(Ô Imperatriz)

O destino é traçado na palma da mão
E a vida se equilibra em cada linha
Andarilho, sonhador
Na corda bamba do amor
Encontrei minha rainha

Olhei o céu no infinito da constelação
A noite, o véu, eu vi os astros na imensidão
Fui sob à luz das estrelas
Buscar a certeza da minha direção
Ê luar de balançar maré
Meu cantar é um sinal de fé
Prenúncio da sina da minha escola
O sol beija a lua no espelho do mar
Já está marcado no meu calendário
Verde-esmeralda é vitória que virá
O que é meu é da cigana, o que é dela não é meu
Quando chega fevereiro meu caminho é todo seu

Compartilhe este post com seus amigos

Facebook
Twitter
LinkedIn
Telegram
WhatsApp

Veja também

EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

Contato:
[email protected]