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Para além do ensino: Unindo futebol e inclusão, projeto do Complexo do Alemão acolhe crianças com deficiência

'Bola de Ouro' existe há três anos na localidade conhecida como Área 5
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Fim de tarde, início da noite, aquele clima ameno de outono carioca. Inúmeras crianças jogam bola na Rua Paraíso, número 2, na Área 5, uma das localidades do Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio. Esse é o endereço do ‘Bola de Ouro’, projeto social que ensina gratuitamente a prática do futebol para 316 pequenos moradores. Entre eles, há crianças e jovens que são diagnosticados com alguma deficiência – ou estão investigando o diagnóstico, junto a profissionais. Ali, no famoso junto e misturado, é onde acontece uma atitude que vai ser essencial para o desenvolvimento deles: a inclusão. E, claro, o esporte. 

Crianças do ‘Bola de Ouro’
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Confiança e sociabilidade. Essas foram as duas palavras que guiaram, sem querer, a presente matéria. Priscila Ferreira, de 41 anos, é cria do Complexo, trabalha como auxiliar de serviços gerais e é mãe do Gustavo, de 10 anos. “Estamos investigando a suspeita de Transtorno do Espectro Autista e TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade)”, conta. “A escola viu uma dificuldade que ele tinha e alertou um problema de vista. Resolvemos e depois veio a dificuldade de aprender. Muita dificuldade com algumas coisas básicas. Ele é muito disperso, aí a professora me deu um encaminhamento para levar na clínica da família e investigarmos”, relembra o início. 

Foi Gustavo quem pediu para entrar no futebol. “A gente passa aqui todo dia e ele sempre pedia: ‘por favor, mãe’. Então, coloquei. Já tem um ano. E ele tá gostando! Gustavo era muito tímido, não brincava muito. Ainda é, mas hoje em dia ele vai. Igual agora, foi lá brincar!”, sinaliza Priscila. Ela desabafa que seu filho sofre muito bullying na escola. “Acho que aqui ele se aceita um pouco melhor. Ele acha que as pessoas não gostam dele, então vindo para o futebol ele descarrega. E tem amigos. Antes, não era assim, ele era bem contido. Então o esporte está ajudando bastante!”, comemora a mãe. 

Priscilla e seu filho Gustavo
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Perguntado sobre o quanto gosta do futebol, o pequeno de olhos expressivos responde: “muito”. Tímido mas muito atencioso, ele confirma que se não jogasse bola, não seria tão feliz como é. Fora Gustavo, há mais quatro alunos diagnosticados com diferentes deficiências que amam o futebol: João Vitor e Victor Hugo são diagnosticados com autismo, William com Síndrome de Down, e Marcelli com disfunção neuropsicomotora conjuntiva.

Responsáveis do Bola de Ouro

Diogo Chaves, de 38 anos e Webert da Silva Machado, de 37 anos, são os responsáveis pelo ‘Bola de Ouro’. Mais conhecidos como Diogo e Betinho, respectivamente, eles embarcaram nesse projeto há três anos, e nunca param de aprender. “Na inclusão, as crianças que não têm deficiência aprendem a respeitar mais as diferenças. E as crianças com deficiência se sentem mais… iguais. Ficam mais confiantes e sociáveis”, relata. 

Diego e Webert lideram o projeto há 3 anos no Complexo do Alemão
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

“A gente começa ensinando a teoria para elas antes de iniciar a prática. O ensino tem que ser de acordo com cada dificuldade”, pontua Betinho. Ele compartilha sobre seu irmão com Síndrome de Down, William, de 20 anos. “Ele está com a gente desde o início. Apesar de não falar, ele entende tudo e gosta muito de jogar bola”, ressalta. E, realmente, o William se mostrou super ‘da galera’ na hora das fotos.

Dioguinho comenta que a inclusão foi um movimento natural e orgânico. “Nós não tínhamos planejado. No início eu não entendia muito bem o comportamento, mas hoje em dia eu estou sempre pesquisando, principalmente sobre o autismo. A gente cria um apego diferente quando começa a compreender”, revela. Ele é quem mais acompanha a trajetória de Gustavo e confirma: “Ele era quietinho, agora ele já até pede a bola”, comenta, alegre.

Por que a inclusão de PcD é urgente? 

De acordo com a Pnad Contínua 2022 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), cerca de 18,6 milhões de pessoas de 2 anos ou mais de idade do país (ou 8,9% desse grupo etário) tinham algum tipo de deficiência. Ainda de acordo com o Pnad, no terceiro trimestre de 2022, a taxa de analfabetismo para as pessoas com deficiência foi de 19,5%, enquanto entre as pessoas sem deficiência foi de 4,1%.

Com relação à formação acadêmica, apenas 25,6% das pessoas com deficiência tinham concluído pelo menos o Ensino Médio, enquanto 57,3% das pessoas sem deficiência tinham esse nível de instrução.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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