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Seja para homenagear São Jorge ou Ogum, 23 de abril é dia de comer feijoada

A tradição carioca é promovida também por moradores do Vidigal e do Alemão
Foto: Igor Albuquerque / Voz das Comunidades

Embora o padroeiro da cidade do Rio de Janeiro seja São Sebastião, são vários os cariocas que têm devoção por São Jorge. Conhecido como santo guerreiro, sua estátua está presente no altar de estabelecimentos comerciais, nas rodas de samba, na estampa de camisas, em tatuagens, adesivos de carros e janelas, azulejos, letras de música e já foi até título de novela ambientada no Complexo do Alemão. Em 2019, junto com São Sebastião, tornou-se padroeiro estadual.

Esse santo, tão presente na cultura carioca, é celebrado no dia 23 de abril, instituído feriado municipal desde 2001. É o dia de vestir vermelho e branco, ir à missa ou terreiro e, ao som de samba e pagode, saborear uma feijoada, prato criado por negros escravizados.

Uma dessas feijoadas acontece no Vidigal e é produzida por Marcos Neves, 56 anos, conhecido como Marcão da praia. Há quinze anos o comerciante organiza um evento que reúne samba, pagode, cerveja gelada e uma deliciosa feijoada feita por Dona Aracy, sua mãe.

Dona Aracy não conta a ninguém o segredo da sua feijoada.
Foto: Igor Albuquerque / Voz das Comunidades

Moradora antiga do Vidigal, a umbandista diferencia a feijoada de São Jorge da feijoada de Ogum, orixá associado ao santo católico.  

“Eu carrego uma Preta Velha e a comida dela é feijoada. Obviamente, eu tive que aprender. Feijoada de feijão preto para Ogum não existe. O feijão de Ogum é mulatinho. A feijoada de São Jorge eu faço com feijão preto porque é o que todo mundo gosta, mas não tem nada a ver com o Ogum. Feijoada de Ogum é no terreiro”, explica a religiosa.

O sincretismo, ou seja, a incorporação de crenças e símbolos entre religiões, foi uma estratégia usada pelos negros escravizados para que pudessem cultuar suas divindades e exercer a fé.  É importante lembrar que durante a escravidão somente o catolicismo era permitido, por muito tempo as religiões de matriz africanas foram criminalizadas e até hoje são perseguidas. 

A feijoada organizada por Marcão tem caráter religioso, cultural e comercial. Os ingressos com os preços entre 50,00 e 100,00 reais dão direito aos shows de pagode e a um prato de feijoada. Este ano o evento intitulado ‘Esquenta de São Jorge’ ocorrerá no dia 21 de abril, a partir das 13h, no Terraço Horizonte do Mar, no Vidigal.

“Eu tenho uma clientela que não é do Rio e em outros estados não é feriado, por isso resolvi antecipar. A maioria das pessoas que vão à feijoada é da curimba”, justifica Marcão.

Já para Buruca, 48 anos, cria do Complexo do Alemão, o caráter do evento que organiza é essencialmente religioso. Há 13 anos distribui cerca de 300 pratos de feijoada no dia 23 de abril, em uma área da favela onde mora. Este ano o evento ocorrerá no Morro do Fogueteiro, no Rio Comprido. Um ônibus levará a galera do Alemão até o local. 

“Tive muitos problemas e fiz uma promessa para que passassem e eu ficasse na maior harmonia, paz, saúde e que nada me importunasse. Ao som do hino de São Jorge, todos os presentes degustam a feijoada e mentalizamos coisas boas”, diz Buruca.

Independente da motivação e se a saudação é ‘Salve, Jorge’, ‘Ogunhê, Ogum’ ou ambas, esta é uma data que tem a cara do carioca, não é mesmo?

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PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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