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Teleférico do Alemão completa 9 anos: 5 em funcionamento, há 4 segue fechado

Transporte que já foi considerado ponto turístico e cenário de novela está abandonado
Teleférico do Alemão. Foto: Renato Moura / Voz das Comunidades
Teleférico do Alemão. Foto: Renato Moura / Voz das Comunidades

Foto: Renato Moura / Voz das Comunidades
Colaboração: Matheus Andrade, Beatriz Diniz e Jonas Di Andrade

Na tarde de uma quinta-feira, dia 07 de julho de 2011, com a presença da então presidenta Dilma Rousseff, era inaugurado o Teleférico do Complexo do Alemão. Em 2012, o veículo já transportava, em média, dez mil passageiros por dia, passando por todas as seis estações (Bonsucesso, Adeus, Baiana, Alemão, Itararé e Palmeiras) em uma travessia do circuito em 16 minutos no sistema que custou mais de  R$ 253 milhões para os cofres públicos. O investimento tinha como objetivo trazer mobilidade para moradores do complexo carioca. Hoje, o Teleférico, que já foi considerado ponto turístico e cenário de novela, está abandonado. Em nove anos de existência, já são quatro sem funcionar, desativado. 

Inauguração do Teleférico do Alemão. Foto: Reprordução
Inauguração do Teleférico do Alemão.
Foto: Roberto Stuckert Filho / Reprodução

O Teleférico do Alemão atraía turistas interessados em conhecer a comunidade. Além de ter uma vista panorâmica da cidade, também funcionava como espaço comercial e área de lazer, cultura e estudo. Com o auxílio de 152 gôndolas, os passageiros dividiam-se em até 10 pessoas por gôndola, 8 sentados e 2 em pé. Moradores do Alemão podiam usar o transporte sem custo por todo o percurso, que tem o total de 3,5 km de extensão.  

O ex-primeiro-ministro da França, François Fillon, foi uma das autoridades que já conheceu o Teleférico. Visitou o Complexo do Alemão em dezembro de 2011, junto com o ex-governador Sérgio Cabral, que atualmente possui condenações que somam quase 282 anos de prisão. Na ocasião, comemorava a marca de 1 milhão de passageiros transportados e participou com sua comitiva da cerimônia na Estação Palmeiras.

O ex-governador Sérgio Cabral cumprimenta o
ex-Primeiro-ministro da França François Fillon.
Foto: Reprodução

Há exatos quatro anos, no dia 7 de julho de 2016, em seu aniversário de cinco anos, o Teleférico do Complexo do Alemão foi fechado. Dessa vez, moradores já previam o início do fim. Na manhã daquela quinta-feira houve um intenso tiroteio na região da Alvorada, perto da Estação do Itararé, e policiais informaram que as cabines do Teleférico foram atingidas por tiros. Mediante a isso, o governo do Estado do Rio suspendeu as atividades do transporte. Mesmo com a direção do Teleférico negando o ocorrido.

Em setembro de 2016, o Teleférico do Complexo do Alemão teve suas atividades suspensas por conta de uma manutenção de seis meses, o que nunca tinha ocorrido em seis anos de funcionamento. A Secretaria Estadual de Transporte (SETRANS) explicou que a suspensão foi por conta de um “desgaste repentino de um dos cabos” e que a peça que seria trocada era produzida no exterior, sob medida, e levaria tempo para chegar ao Brasil.

Teleférico do Alemão, estação Morro do Alemão. Foto: Renato Moura / Voz das Comunidades

Em outubro, o diretor de operações do Teleférico, Marcos Medeiros, afirmou por nota que o contrato com o Governo do Estado foi oficialmente suspenso por falta de pagamentos, assim entregando a administração da empresa à SETRANS. Os problemas foram se agravando ainda mais e, em dezembro daquele mesmo ano, funcionários ficaram sem salários por três meses e receberam avisos prévios de que no início do ano seguinte seriam demitidos.

O prazo de seis meses para manutenção foi ultrapassado. Em 2017, o Teleférico completou um ano de portas fechadas. O consórcio Rio Teleféricos reivindicava seis meses de repasses não feitos pelo Governo do Rio (os repasses mensais eram de R$ 2,7 milhões). A dívida chegaria a quase R$ 19 milhões. 

Em fevereiro de 2019, com quase dois anos de portas fechadas por conta de alegações de manutenções que seriam realizadas, um cabo de comunicação energizado se soltou de uma das torres da estação da Baiana, após uma tempestade e uma casa foi atingida, resultando em uma pessoa ferida.

Teleférico do Alemão. Foto: Melissa Cannabrava / Voz das Comunidades
Teleférico do Alemão, estação Morro da Baiana. Foto: Melissa Cannabrava / Voz das Comunidades

Em setembro do mesmo ano, a Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos acompanhou uma equipe da Secretaria de Transportes, que realizava uma visita ao Complexo do Alemão. De acordo com promessa anunciada pelo governador Wilson Witzel, o Teleférico iniciaria um processo de retomada. Em maio de 2020, na estação Morro do Adeus, próxima da Torre 8, durante a madrugada, mais um cabo de comunicação energizado do teleférico se soltou. Ninguém ficou ferido.

Famílias que perderam suas casas em decorrência da construção se revoltam

Em 2010, foi preciso preparar todo o território não só para a construção do Teleférico, mas também implementação do sistema de transporte, que corta 3,4 km do Complexo do Alemão, com 6 estações, 24 pilares (o mais alto deles tem cerca de 50 metros de altura da base até a parte de sustentação dos cabos).

A opção escolhida foi a de remanejar todas as famílias que moravam nas localidades em que as obras causaram impacto. Na época, todos que foram notificados com laudos de interdição saíram do local e, mesmo depois de serem indenizados, puderam dar entrada no Aluguel Social, benefício que fazia parte do programa Morar Seguro do Governo do Estado na período.

O auxílio atenderia famílias removidas de área de risco, desabrigadas ou  sem condições de pagar aluguel, e o governo pagaria durante um ano o valor de R$ 400,00 a todos beneficiados. 

LINHA DO TEMPO

2017

2015

2014

  • Teleférico do Complexo do Alemão ficou gratuito para todos O Teleférico se tornou gratuito para todos os moradores e visitantes nas estações intermediárias, como Adeus, Baiana, Alemão e Itararé. (03/08/2014)

2013

2012

Novela Salve Jorge foi gravada no Teleférico do Alemão.
Foto: Reprodução
  • Interrupção para gravação de novela A Globo negociou com a SuperVia, que administrava na época o Teleférico do Complexo do Alemão, algumas interrupções no funcionamento para gravação de cenas da novela Salve Jorge. (09/05/2012)
Foto: (Renato Moura/Voz das comunidades)

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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