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Dona Marta é polo de arte, cultura e a comunidade favorita das celebridades

MORRO DONA MARTA- selma souza

Santa Marta, a favela que nasceu por volta de 1920 aos pés do Cristo Redentor e tem uma das vistas mais privilegiadas da cidade maravilhosa. Ao longo de sua história pode ser lembrada por muitos fatos. Foi a primeira comunidade carioca a receber uma unidade da UPP, mas ficou famosa bem antes, em 1996 quando o cantor Michael Jackson gravou um clipe do sucesso “They Don’t Care About Us” numa laje do morro. Outros famosos como Madonna, a seleção de futebol Holandesa e Hugh Jackman, ator que interpretou o herói Wolverine, também já passaram por seus becos e vielas.

Independente das celebridades que pisam com frequência na favela, são os moradores que fazem o Santa Marta um local único, já que apesar das dificuldades enfrentadas pelos moradores, ainda é possível encontrar crianças brincando, comércio efervescente e o sentimento de solidariedade entre os residentes. 

“Aqui é um lugar bom de se morar, é tranquilo. As pessoas se respeitam e se ajudam sempre que podem, como uma grande família.”, diz Vanderleia dos Santos, que vive na comunidade há 18 anos.

 Aos Pés do Santa Marta

Há 20 anos, o músico Robespierre Avila criou o Projeto “Aos pés do Santa Marta”, o qual oferece aulas de percussão, instrumentos musicais, inglês, artes, teatro e reforço escolar para mais de 35 crianças e adolescentes. A iniciativa não tem patrocínio e conta com apoio de oito professores voluntários e da própria comunidade.

“Quando eu cheguei aqui já tinha cultura no morro, mas as pessoas de fora não viam isso, aí eu criei o projeto para mostrar a cultura do Santa Marta para todo mundo.”

O professor de música posa com os alunos. Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

O professor de música saiu do interior do Rio Grande do Sul para morar no bairro de Botafogo, mas chegando ao Rio percebeu que tinha alugado uma casa na comunidade Santa Marta sem saber. Apesar de ouvir comentários sobre a violência na favela, Pierre como é chamado se apaixonou e permanece até hoje na comunidade.

“Essa confusão toda foi legal, eu nunca tinha morado em comunidade e é muito diferente, mas eu me senti altamente acolhido.”

Pierre usa a arte como ferramenta de transformação. Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Já o artista Swell Demuner chegou ao morro em 2004 e sentiu falta de grafite no Santa Marta, mas só em 2010, quando a empresa Coral investiu na comunidade com o projeto “Tudo de Cor” que ele pode mostrar seu trabalho para mais pessoas. Desde então tem apoiado o projeto “Aos Pés do Santa Marta”, onde o artista também tem uma banda de rap e é percussionista.   

Antes e depois do Bonde

Os moradores da parte alta da comunidade contam que a chegada do plano inclinado melhorou muito a qualidade de vida, já que para realizar atividades simples como carregar compras, levar alguém doente ao médico, ir para escola ou trabalho era necessário fazer uma longa caminhada pelas escadas e rampas até a parte baixa.

O plano inclinado apresenta problemas mecânicos frequentes. Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Foi então que em 2008, o governo do estado inaugurou o bondinho, que tem trilhos ao longo de 340m e se divide em 5 estações. Nos horários de pico a fila é grande, já que cada gôndola carrega no máximo 20 passageiros e demora cerca de 20 minutos para fazer todo o percurso. No entanto, nem tudo são flores. O plano inclinado apresenta problemas mecânicos frequentes, apesar de ser primordial para o andamento da comunidade.   

A comerciante Vanderleia. Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

“O maior problema do Santa Marta é a altura, quando o bonde quebra já era e frequentemente fica parado por 15 dias  ou até um mês, se o bonde não estiver funcionando eu demoro quase duas horas para subir ou descer”, conta a moradora Vanderleia dos Santos, de 52 anos.

Os moradores fazem história

Dona Raimunda da Conceição tem 80 anos e há 60 vive no Santa Marta. A moradora que é natural do Ceará conta que ela e seu marido vieram para o Rio de Janeiro em busca de emprego, mas quando chegaram se depararam com uma favela ainda em formação, sem água encanada, muito violenta e quase sem nenhuma infraestrutura. 

“Quando cheguei no Santa Marta só não voltei para não deixar meu marido sozinho aqui, um dia eu estava saindo para pegar água e veio um cara dando tiro numa mulher na minha porta, eu me escondi, mas quase pegou em mim, por aqui era assim.”

Dona Raimunda vive no Morro dona Marta há 60 anos. Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Hoje, Raimunda gosta muito de morar na comunidade e conta que muitos problemas foram resolvidos ao longo do tempo. Ela lembra que os moradores se uniram com o padre da capelinha Santa Marta para fazer um poço e resolver o problema da água. O plano inclinado também foi um ponto positivo para a moradora. 

“Agora aqui é uma beleza, as pessoas são boas, tem tudo, tem luz, tem água, da época que eu cheguei não gosto nem de me lembrar.”

Capela da Padroeira do Morro, a Santa Marta. Foi construída na década de 1940. Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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