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OPINIÃO – Entre Jesus e os esquecidos: Uma reflexão sobre justiça e opressão nas periferias do Brasil

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Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

“Jesus ou Barrabás”, perguntou Pôncio Pilatos à multidão ensandecida naquele que é considerado o mais importante julgamento que a humanidade já viu. O resto da história todos nós conhecemos: “Jesus foi crucificado, morto e sepultado. Desceu à mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia…”. A Via Crúcis do “filho de Deus” nos remete à situação do povo negro e pobre deste Brasil, moradores das periferias, diariamente julgados e sentenciados pela sua cor/raça ou posição social.

Não tenho como pretensão questionar a fé e os dogmas do Cristianismo. Meu objetivo é traçar um paralelo entre a saga do “Messias” e dos moradores das favelas brasileiras, trazendo à tona questões sobre justiça e opressão.

Acusado de blasfêmia, subversão e por intitular-se falsamente como profeta, Jesus foi um preso político, sentenciado à morte por atentar contra a ordem das estruturas de poder vigentes na época. O menino Joel Conceição e o garoto Eduardo Jesus, moradores do Nordeste de Amaralina e Complexo do Alemão, respectivamente, foram igualmente condenados à morte aos dez anos de idade. De forma covarde e sem chance de defesa, ambos foram atingidos com tiros na cabeça. Se Jesus ressuscitou e entrou para a história, os dois jovens não tiveram a mesma sorte. Se para os cristãos a ressurreição de Jesus é um símbolo de esperança, serve de consolo também que Joel, Eduardo e tantos outros tenham virado símbolos na luta contra a opressão policial, o que faz com que de alguma forma permaneçam eternizados.

E a vida dessas mães que perderam seus filhos, de forma tão violenta e abrupta, não é igualmente uma Via Crucis? E a juventude da favela, que vive à espera de oportunidade, os trabalhadores que vivem à margem da sociedade, padecendo em subempregos, com exaustivas jornadas de trabalho e salários que não lhes permitem o mínimo de dignidade, não são também igualmente crucificados? E aqueles que usam um transporte público de péssima qualidade, com um sistema de saúde precário, vendo os seus morrerem na fila da regulação, não são igualmente injustiçados? E os negros, mulheres e homossexuais, vítimas da mais cruel forma de preconceito?

A todos estes dirijo as minhas orações.

TIAGO QUEIROZ
Baiano de Salvador-BA é graduado em Jornalismo e editor-chefe do NORDESTeuSOU, maior portal comunitário do Norte-Nordeste.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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