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Elevador quebrado: Moradores do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo sofrem com falta de manutenção no transporte

Foto: Renato Moura/Voz das Comunidades

“Estamos abandonados! Ninguém se importa com o pessoal do Pavão Pavãozinho e Cantagalo. A gente não é prioridade para ninguém!”

Janeiro é o mês de férias da criançada e o verão segue firme, com a sensação térmica passando dos 40º. Muitos estão aproveitando a praia e é considerado privilegiado aqueles que vivem próximos ao mar, como os mais de 30 mil moradores do Complexo do Pavão Pavãozinho e Cantagalo, que possuem uma das vistas mais bonitas da cidade.

O conjunto de favelas do PPG fica localizado entre Ipanema e Copacabana, bairros nobres da Zona Sul do Rio de Janeiro. Esses que já ganharam músicas, poemas e viram cartões postais para quem visita nossas terras. Apesar de toda a atenção que os bairros levam, apenas quem mora no asfalto é lembrado e tem um pouco mais de atenção em relação aos serviços públicos na região.

“Estamos abandonados! Ninguém se importa com o pessoal do Pavão Pavãozinho e Cantagalo. A gente não é prioridade para ninguém!” – comenta Priscila da Silva Nascimento, cria do PPG, ao apontar um dos maiores transtornos que atinge quem vive alí: A falta de manutenção dos elevadores da favela.

Elevadores estão sem funcionamento. Foto: Renato Moura/Voz das Comunidades

Inaugurado durante uma grande festa na comunidade em 30 de junho de 2010, com 64 metros de altura e 24 de extensão, o elevador do Complexo Rubem Braga foi criado com a intenção de facilitar o acesso os moradores até a pista da praça General Osório ao metrô Cantagalo, poupando quem vive ali de encarar as escadarias íngremes em forma de “zigue-zague” que beiram o penhasco e que dão caminho aos pontos mais alto. Hoje em dia, o local que já atraiu um grande número de turistas à procura do mirante e custou mais de R$ 45 milhões aos cofres públicos não funcionam mais como prometido.

“O elevador fica nesse para e volta já tem muito tempo. As vezes fica uns 2 dias sem funcionar e depois do nada ele tá de volta. Dessa vez, está parado desde antes do Natal. Na primeira semana de dezembro parou definitivo e ainda não voltou até hoje. Minha avó tem 90 anos e é cega. Sempre que precisamos descer com ela, minha mãe tem que gastar dinheiro com carro para vir buscar em casa.” Priscila é dona de casa e é mãe de um bebê de 2 anos, que precisa carregar no colo por toda a extensão da escadaria. Outra reclamação da moradora é a falta de informações e assistência. “A gente não tem contato direto com eles. Não são nem um pouco acessíveis”.

A escadaria em forma de “zigue-zague” é a única opção para subir a favela. Foto: Renato Moura/Voz das Comunidades

Composto por duas torres com elevadores panorâmicos, o transporte fica em frente a casa de Clemilda Ribeiro, de 66 anos. A aposentada lamenta a falta de cuidado e também acusa o MetroRio, empresa responsável pela manutenção do transporte, de negligência e falta de cuidado com quem mora nas comunidades do PPG.

“Ás vezes fico toda feliz e desço de elevador. Quando volto com compras, cheia de bolsas pesadas, o elevador já tá parado. É sempre assim, uma surpresa! Hoje mesmo é dia de feira. Vê se eu fui?! Não dá! Como eu ia subir essas escadas todas nesse sol e com peso? Tiraram um monte de gente que morava aqui para construir isso para não funcionar? Cadê a manutenção? Quando preciso muito, pago alguém para subir com as coisas. Sempre tem uma garotada aproveitando a situação para ganhar um trocado.”

Elevador do PPG já foi ponto turístico da Zona Sul do Rio. Foto: Renato Moura/Voz das Comunidades

Durante as obras de construção do veículo, aproximadamente 120 famílias foram realocadas para partes mais altas do morro e são essas que mais sofrem com a falta de funcionamento do meio de transporte. O comércio da favela também segue no prejuízo: “Tá muito complicado agora. Além de ter que subir a escadaria toda, o movimento diminuiu bastante. Antes passava gente pra caramba aqui, já que é caminho. Esse mês por exemplo está bem puxado.” – conta Júnior, que é morador do PPG e trabalha no Bar do Elevador.

Dona Romilda Conceição de Oliveira de 57 anos é moradora da quinta estação do Bonde deixa o apelo: “No começo era tudo ótimo, ele tinha até ascensorista. Agora os caras ficam sentados lá na estação sem poder trabalhar. A gente sente muita má vontade. Sabe por que isso tudo? Não são eles que sobem e descem as escadas todos os dias igual a gente. O povo lá de baixo esquece que tem pessoas que moram aqui em cima ou apenas não se importam mesmo. Não basta só estar funcionando. Tem que tem a manutenção!”

Romilda Ribeiro (dir.) e Clemilda Oliveira (esq.) comentam sobre dificuldade de acesso aos pontos mais altos da comunidade. Foto: Renato Moura/Voz das Comunidades

Em nota, O MetrôRio disse que conta com equipe de manutenção especializada para realização dos reparos nos equipamentos de acessibilidade e, diferente do que foi informado por moradores, a empresa afirma que o elevador da estação General Osório, que fica no acesso ao Complexo Rubem Braga, parou de funcionar apenas na última sexta-feira (18/01), por causa de mau uso. De acordo com a Concessionária, foi solicitado ao fornecedor a entrega de uma nova peça para substituição e normalização do serviço.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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