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Avanços no processo de implantação do IFRJ no CPX

Organizações do CPX do Alemão acreditam que instituição pode mudar estatísticas de acesso à educação
Foto: Voz das Comunidades

De acordo com o Índice de Progresso Social (IPS), pesquisa realizada pela prefeitura do Rio divulgada em abril de 2023, estima-se que apenas 4% dos jovens entre 17 e 24 anos que moram no Complexo do Alemão cursam ou já concluíram o ensino superior. Há mais de 14 anos o próprio CPX tenta trazer uma solução que aproxime os moradores da faculdade. Através do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) do Alemão os moradores sonham em dar um futuro melhor para seus filhos. A proposta de ter uma instituição de ensino médio técnico, profissionalizante e superior já vem sendo debatida desde 2008, na época, por questões políticas de trocas de governo não houve progresso. Porém em 2023, com a aproximação das instituições com o Governo Federal e por meio da mobilização do Plano de Ação do CPX e abaixo assinado virtual, o tema voltou a ser debatido. O anúncio da construção do instituto chegou a ser anunciado em um evento em julho, e o assunto segue sendo analisado.

O  estudante de serviço social, Gabriel Barbosa, de 21 anos, diz que está ansioso pela visibilidade que o IFRJ pode trazer para o CPX. Ele conta que até o ensino médio não pensava em fazer faculdade, por considerar uma realidade distante. “Eu não conhecia muitos cursos, não sabia muito qual área que eu gosto e poderia fazer”. Gabriel que mora no loteamento da Nova Brasília acredita que com o instituto a visão da juventude para a educação pode melhorar, mas que é necessário ter políticas de permanência. “Os jovens precisam de condições para entrar, permanecer e terminar a graduação ou o ensino médio, sem se preocupar com trabalho para complementar a renda de casa, sem se preocupar com a violência”, complementa.

Entretanto, alguns obstáculos dificultam o avanço do projeto. O terreno onde seria construído o IFRJ mudou. Para a alegria dos moradores, a construção da instituição seria no terreno da antiga fábrica de plástico Tuffy Habib na Estrada do Itararé. O local era cobiçado para a construção pela localização que facilita a locomoção dos estudantes. O anúncio do local para construção foi feito em um evento na Nave do Conhecimento com a presença do Ministro da Educação Camilo Santana, o prefeito Eduardo Paes, secretário de educação Renan Ferreirinha, e outras autoridades e representantes do CPX. Devido a questões burocráticas na liberação do terreno envolvendo a negociação do valor a ser pago pela prefeitura, houve uma mudança de planos. Então, um novo espaço está sendo negociado. Até o momento desta reportagem, a antiga Tele Rio de Inhaúma é o terreno onde possivelmente será construído o futuro IFRJ do Alemão.

Antiga fábrica da Tuffy localizada em um ponto estratégico seria a sede do instituto
Foto: Josiane Santana / Voz das Comunidades

Um caminho conhecido

Não é de hoje que a comunidade olha para possíveis terrenos que podem ser o IFRJ. Em um dossiê que acompanha o abaixo-assinado online reivindicando a instituição no CPX, há uma série histórica que mostra principalmente a liberação do terreno como um impedimento para a implantação. Já houve três terrenos que quase viraram instituto. A antiga fábrica da Coca-Cola, a Fábrica da Tuffy e um terceiro na Estrada Adhemar Bebiano que foi recusado por causa do tamanho e na época pela proximidade com a pedreira Lafarge. O dossiê completo pode ser acessado em cepedoca.org.br em “Abaixo-assinado por um campus do IFRJ no CPX”.

A desapropriação é uma etapa necessária realizada pela prefeitura. Funciona assim: A prefeitura inicia a negociação com o proprietário, oferecendo um valor pela compra do terreno. Caso seja aceito, a prefeitura faz o pagamento e doa o terreno para a construção do IFRJ. Entretanto, se a proposta não for aceita desta forma “amigável”, é necessário entrar com uma ação judicial. A partir daí um juiz determina o valor que deve ser pago pelo terreno. Caso o proprietário concorde, é feito o pagamento e então ele é doado para a construção. O proprietário do primeiro terreno não aceitou, agora a negociação é pelo segundo terreno. A primeira tentativa foi feita sem sucesso, no momento estão entrando com uma ação judicial.

Estudantes e representantes de organizações opinaram sobre as próximas etapas antes da construção do IFRJ, entre elas a mobilização nas escolas
Foto: Josiane Santana / Voz das Comunidades

Enquanto o terreno para a construção do IFRJ não é liberado, as reuniões do Plano de Ação Popular do CPX continuam acontecendo para movimentar esta e as outras propostas de melhorias. A última  reunião aconteceu na Escola Quilombista Dandara. Além dos representantes de instituições, que assinam as propostas também, estiveram presentes o reitor do IFRJ Rafael Almada, a comissão de implantação do IFRJ e a Secretária Municipal de Ciência e Tecnologia, Tatiana Roque que diz que, devido a contestação e com o fechamento do orçamento para o final de ano, houve atraso. “Assim que abrir o orçamento, eu mesma vou pedir ao prefeito para apressar o processo e ele está empenhado para isso. E eu imagino que fevereiro ou março vai tá resolvido “, comenta. 

Alan Brum, fundador e diretor do Instituto Raízes em Movimento comenta uma preocupação nesse processo de desapropriação: 2024 é ano eleitoral. “Pra gente é muito importante que dê um passo significativo antes do calendário de eleição interromper os trabalhos da prefeitura”,  pontua.

Usar as estruturas que já tem

Enquanto ainda não começaram a construção do IFRJ, uma recomendação dada pela secretária Tatiana Roque é usar os espaços que já existem no território. Um desses locais é a Nave do Conhecimento de Nova Brasília. A proposta de cursos de curta duração foram debatidas junto com a comissão de implantação. A ideia inicial é começar com alguns cursos voltados para a parte de turismo e administração. “Todos começaram com alguma ação de formação em algum espaço que não era o definitivo da unidade e é isso que essa comissão vai fazer.” comenta o reitor Rafael Almada.

O professor Edmundo Aguiar, que já acompanha a saga do IFRJ no CPX desde o início, está coordenando a implantação. Ele espera que em março já comecem a ofertar os cursos profissionalizantes e contratem professores do CPX. “Esses cursos iniciais nós podemos contratar pessoas de fora para realizar e a gente sempre dá preferência a pessoas da comunidade para fazer”. Sobre a implantação do IFRJ ele se mostra otimista. “No momento a maior dificuldade que a gente tem é uma recomposição do orçamento, que, com isso, se define o tamanho, quantos cursos vamos dar, quantos alunos podemos atender. E o envolvimento de algum parceiro, como no caso a prefeitura que ficou de nos passar um terreno para começar as obras.”

 Comissão de implantação do IFRJ no CPX, ao centro professor Edmundo que coordena o processo
Foto: Josiane Santana / Voz das Comunidades

A equipe do Voz das Comunidades vai acompanhar todo processo até a implantação total do  IFRJ no Alemão.

Projeto do campus do Instituto Federal do Rio de Janeiro no Complexo do Alemão
Imagem: Reprodução

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PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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