Pesquisar
Close this search box.
Pesquisar
Close this search box.

Chuvas fortes trazem sempre um janeiro preocupante para as favelas

Vidigal é uma favela que tem muitas encostas. Por isso a chuva preocupa a todos
Foto: Igor Albuquerque / Voz das Comunidades

Quando chove na favela, não apenas os sons dos raios e relâmpagos causam medo. A população também fica amedrontada e alerta com o som das sirenes de chuva. Ouvidos ficam atentos para qualquer ruído diferente ou grito de socorro. Alguns moradores correm para pegar documentos e buscar abrigo em casas de parentes ou em pontos de acolhimento. 

Essas estratégias de monitoramento tecnológico e ajuda comunitária podem ser chamadas de resiliência climática. O termo define ações que têm o objetivo de mitigar os danos causados pelas mudanças climáticas. 

Segundo dados levantados pela Casa Fluminense, o Estado do Rio de Janeiro, na última década, foi responsável por 2/3 das mortes causadas por desastres ambientais em todo o país. A mesma pesquisa aponta que 2,1 milhões das moradias do estado são consideradas inadequadas. Sabemos que essa vulnerabilidade quanto aos impactos climáticos e habitação é mais evidente em territórios periféricos. 

Tal clima de insegurança tem causado um medo crônico, denominado pela Associação Americana de Psicologia de ecoansiedade ou ansiedade climática. Trata-se de um transtorno causado pela preocupação com os impactos do clima. 

No Vidigal, a cada chuva forte, o pavor dos moradores é despertado. Ainda é viva a memória dos estragos provocados pela tempestade de fevereiro de 2019, que vitimou uma moradora e resultou na remoção de moradores das áreas do Bagulheiro e da Jaqueira.  

Obras de contenção estão sendo realizadas no Morro Dois Irmãos, mas a área da Jaqueira não está totalmente segura. O receio atual é que os destroços das casas demolidas sejam levados durante uma chuva forte e atinjam outras casas.

Destroços das casas demolidas na área da Jaqueira que pode trazer consequências com a chuva
Foto: Igor Albuquerque / Voz das Comunidades

Atentos a esses problemas acarretados pelas mudanças climáticas, moradores de diversas favelas cariocas têm discutido, desenvolvido e compartilhado dados e estratégias de resistência. Exemplo dessas iniciativas é a análise publicada pela Redes da Maré em parceria com a empresa global WayCarbon a respeito das consequências do clima para o conjunto de 16 favelas que compõem o Complexo da Maré, em novembro de 2023. A Rede de Favelas Sustentáveis (que organizou cinco rodas de conversas, uma exposição e participou de um encontro no IPPUR sobre Memória climática, no ano anterior) listou ações desenvolvidas pela população favelada, como: criação de áreas verdes, mutirões de limpeza de rios e valões e implementação de telhados verdes.

A prefeitura do Rio de Janeiro lançou há dois meses o Plano Verão 2023-2024, em vigor até abril, com investimentos de 2,1 bilhões para reduzir os impactos das chuvas. Entre as medidas levantadas está a contenção de deslizamentos. 

Esperamos que parte desse valor seja usado, ao menos, para a retirada dos entulhos do que um dia foram moradias na Jaqueira.

A resiliência climática deve contar com planejamento e execução de um plano governamental estratégico para as favelas, a partir de diálogos com a população favelada. Isso porque é esse território o mais atingido pelas conhecidas chuvas do verão carioca.

Compartilhe este post com seus amigos

Facebook
Twitter
LinkedIn
Telegram
WhatsApp

Veja também

EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

Contato:
[email protected]